Crítica | Zona de Interesse

Longa está disponível nos cinemas e disputa ao Oscar

27/02/2024 16:49 / Por: Laylton Corpes / Fotos: Divulgação
Crítica | Zona de Interesse

1943, Polônia. Bem ao lado do campo de concentração de Auschwitz, uma mulher pede para a sua empregada costurar buracos em um luxuoso casaco de pele que acabou de receber de seu marido, comandante nazista. É nesse tipo de sutileza cruel que Zona de Interesse se debruça para falar sobre um dos episódios mais cruéis já presenciados pela humanidade.


No longa produzido pela A24 e dirigido por Jonathan Glazer (Sob a Pele), o horror está nos detalhes. Hedwig Höss, vivida pela fantástica Sandra Hüller (Anatomia de uma Queda) é uma mulher que aspira sonhos e um futuro para seus filhos, ao passo que seu marido se dedica para sustentar a família. A apatia sobre o que acontece bem ao lado soa quase que utópica, mas está bem presente.


Difícil não falar de Zona de Interesse sem citar o conceito de “Banalidade do Mal”, proposto por Hannah Arendt. A filósofa judia explicava que o “mal” praticado pelos nazistas se tornava um instrumento de trabalho, portanto, algo comum por ser parte do cotidiano. 


Sandra Hüller dá vida a uma apática dona de casa. (Divulgação)

É interessante notar o que há implícito no filme, olhando por esta ótica. Fumaças de trens chegando ao campo podem ser vistas acima do muro e gritos podem ser ouvidos pelo florido jardim. Na estranha calmaria, o choque se encontra na escolha sutil de imagens e sentimentos que envolvem aquele ambiente. Já na direção quase estática das câmeras, a impressão é de que somos testemunhas dos acontecimentos, percorrendo corredores, quartos e salas, quase que como íntimos dali.


Uma proposta ousada, Zona de Interesse poderia percorrer o óbvio caminho da dramatização ou da ação para contar a história, sob risco de humanizar os perpetradores do holocausto. Por outro lado, quem ganha a cena são os gritos, tiros e um excelente trabalho de uma trilha sonora horripilante que se sobrepõe ao cotidiano da família alemã.


Sobreposição de imagens é um dos destaques. Ao fundo, o Campo de Concentração de Auschwitz. (Divulgação)

A realidade é esmagadora, e neste filme, ela chega a contrair o estômago do espectador. Talvez seja por isso que Zona de Interesse venceu em Cannes e consiga ao menos um de seus prêmios na indicação ao Oscar, que o incluiu nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional, Direção, Roteiro Adaptado e Som. 


Avaliação:  ★ ★ ★ ★ (ótimo) 

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